Projeto
de lei quer implementar consumo consciente em rede de estabelecimentos
comerciais.
Por
Ana Luzia Brito e Marcellus Rocha.
Alguns
países decidiram declarar guerra ao plástico, um dos maiores poluidores do meio
ambiente, considerado o grande vilão da poluição do mar e de diversos recursos
naturais. A luta contra o composto sintético também ganhou repercussão no
Brasil com capitais como o Rio de Janeiro e São Paulo aderindo ao banimento do
material, dando destaque a projetos de lei estaduais e municipais que proíbem a
distribuição do canudo de plástico em estabelecimentos comerciais.
Foto: Ana Luzia Brito |
Fortaleza
está prestes a entrar nesse trade sustentável e ecologicamente correto do ponto
de vista ambiental. “A solução é política. O Estado deve apoiar o fomento de
produtos biodegradáveis em substituição ao plástico descartável. Devemos
aprimorar leis que proíbam os descartáveis, como é o caso de nossa proposta que
proíbe o fornecimento de canudos plásticos em alguns estabelecimentos
comerciais da capital”, defende o vereador e autor do Projeto de Lei Ordinária
nº 366/2018, Iraguassú Filho (PDT).
Em
fase de tramitação na Câmara Municipal de Fortaleza, o projeto visa proibir o
fornecimento de canudos de material plástico aos clientes de hotéis,
restaurantes, bares, lanchonetes, padarias, barracas de praia e demais
estabelecimentos comerciais que façam o uso do utensílio. “Eliminar os canudos
de plástico de forma gradativa é o primeiro passo para a redução do consumo,
algo que depende também, da consciência de cada um”, explica o autor do
projeto.
O
diretor setorial do Sindicato das Indústrias Químicas, Farmacêuticas e da Destilação e Refinação de Petróleo (Sindiquímica-CE), Beto
Chaves, defende que o problema do plástico é a má destinação dele. “O projeto
tem que ser mais bem discutido e estudado. O canudo que é feito de
polipropileno é reciclável e dentro da economia circular, ele agrega valor,
pode gerar riquezas”, declarou ressaltando que ao invés de proibir, a melhor
solução seria trabalho de conscientização e a destinação correta do material
por meio de coleta seletiva regular.
“Se
a lei vier vigorar de fato haverá uma dificuldade inicial de seu cumprimento,
mas isso é um benefício e temos que trabalhar na conscientização de todos os
empresários dos segmentos de bares e restaurante, por exemplo, para que
entendam que a vida do canudo acabou”, avalia a presidente da Associação dos
Empresários da Praia do Futuro (AEPFuturo), Fátima Queiroz.
De
acordo com a presidente da AEPFuturo que também é proprietária da barraca de
praia Marulho na Praia do Futuro, ela mesma fará campanha pessoalmente para que
todos os associados passem a extinguir o canudo de plástico. “Em nosso
empreendimento já não usamos o material, nem mesmo no coco”, afirma.
O
presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-CE),
Rodolphe Trindade, defende que a retirada dos canudos deva ser gradativa.
"Somos a favor da Lei e estamos conversamos com o vereador Iraguassú
Teixeira para que sejam inclusos não só bares, restaurantes e hotéis, mas
também os atacadistas e varejistas porque não adianta somente fazermos a nossa
parte se o comércio em geral continuará vendendo", sugere.
Além
disso, Rodolphe Trindade propõe o melhor gerenciamento dos resíduos sólidos por
parte das empresas formalizadas, da população por meio da consciência da
reciclagem e uma melhor fiscalização dos órgãos competentes juntos aos
empresários e aos vendedores ambulantes e informais que vendem produtos com canudos
e copos plásticos.
Para
ele, outros gargalos na aplicação da lei estão relacionados à indústria.
"Somos a favor e temos entendimento da lei, mas é preciso fiscalizar e
conscientizar também quem atua na informalidade", reforça.
Casas
de show, boates, estádios de futebol, ginásios esportivos e comércio ambulante
em geral também estão previstos na aplicabilidade da lei. A multa em caso de
descumprimento pode variar entre R$ 1.965 a R$ 5.895 tomando como base a
Unidade Fiscal de Referência.
A
proposta sugere que a fiscalização seja feita pela Agência de Fiscalização
Municipal (Agefis), com auxílio de secretariais municipais e demais órgãos
públicos. O assunto ganhará mais notoriedade com discussões na Audiência
Pública programada para o dia 20 de maio, a partir das 14horas, na Câmara
Municipal.
Impactos do plástico
O
professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do
Ceará (UFC), Marcelo Soares, adverte que a poluição de plásticos no mar não
respeita fronteiras. “O problema é geral com impacto generalizado. É como as
mudanças climáticas que atinge tudo. Pode afetar desde animais como tartarugas,
aves marinhas, golfinhos, baleias, dentre outras espécies, além de organismos
marinhos como os corais, e até o ser humano”, observa.
Para
o pesquisador também engajado em projeto de limpeza da orla cearense, a
problemática atravessa campos ainda desconhecido pelo homem. “A poluição de
plásticos nos oceanos podem ocasionar o transporte de doenças através de vírus
e bactérias, introdução de espécies invasoras, e o surgimento de microplásticos
invisíveis a olho nu modificando o funcionamento e crescimento de alguns
animais, por exemplo,”, explicou.
Perguntado sobre dados recentes de limpeza do mar, o professor revelou que semana passada participou de uma ação na orla da Praia de Iracema, onde foi retirado 8kg de lixo plástico como sacolas e redes de pesca. “Canudos têm com certeza no fundo do mar, mas ficam transparentes na água e difícil de enxergar”, afirmou.
Perguntado sobre dados recentes de limpeza do mar, o professor revelou que semana passada participou de uma ação na orla da Praia de Iracema, onde foi retirado 8kg de lixo plástico como sacolas e redes de pesca. “Canudos têm com certeza no fundo do mar, mas ficam transparentes na água e difícil de enxergar”, afirmou.
Um
estudo divulgado em março desse ano pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF)
aponta que o Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico no mundo. O
relatório revela que o país gera 11,3 milhões de toneladas de resíduo do
material, reciclando pouco mais de 1%, equivalente a 145 mil toneladas. Estima-se
que mais de 104 milhões de toneladas de plástico poluam os ecossistemas até
2030 caso a relação com o material não mude.
Segundo
o WWF, o destino de 7,7 milhões de toneladas de plástico são os aterros
sanitários. Outros 2,4 milhões de toneladas de plástico são descartados de
forma irregular, sem qualquer tipo de tratamento, em lixões a céu aberto. O
estudo completo e uma petição aos líderes globais para coibir a poluição dos
plásticos marinhos estão disponíveis no site: https://www.wwf.org.br/?70222/Brasil-e-o-4-pais-do-mundo-que-mais-gera-lixo-plastico.
Mudança de hábito
A comerciante Sandra de Lima. Foto: Ana Luzia Brito |
Dez
anos no comércio informal vendendo coco na Beira Mar, Sandra de Lima passou a
trabalhar com o canudo biodegradável além de vender canudos de metal em
parceria com o Projeto LimpaMar. “Sou a favor que o plástico seja extinto
porque a natureza sofre, muitos animais marítimos morrem. Percebo que o
problema não é só a existência do produto e sim a falta de conscientização das
pessoas que pensam que soltando o biodegradável, ele vai se decompor por si só,
e na realidade sabemos que sua decomposição é de dois anos e meio ficando partículas
miúdas que podem matar alguns animais marinho”, disse.
Segundo
a vendedora, o público de faixa etária entre 15 a 30 anos é o que mais compra o
canudo de metal. “Isso é interessante porque o futuro é deles”, observou Sandra
ressaltando que os mais velhos parecem não estar preocupados com essa questão.
“Eles também têm que se conscientizar pensando nos netos e bisnetos, na geração
futura. O que eu foco hoje é nisso, minha preocupação é com eles”, sintetiza a
empreendedora.
O
canudo de metal é vendido pela comerciante por R$ 20,00 e o produto acompanha escovinha
de higienização.
Para
a produtora cultural, Wilma Farias, 32 anos, a iniciativa de usar o canudo de
metal se deu por questões ambientais. “Mudei o velho hábito de usar canudo de
plástico ao saber do tempo que leva para se decompor, em torno de 10 mil anos,
sendo a sua vida útil de em torno 10 a 15 minutos. Além disso, o descarte desse
material afeta a vida marinha poluindo o oceano”, observa.
Jijoca de Jericoacoara
Em
Jijoca de Jericoacoara, distante 370 km da capital cearense, a Lei Nº 540/2018
que proíbe o fornecimento de canudos de plásticos em estabelecimentos
comerciais passou a vigorar no final do mês de março de 2019. A medida é um
avanço para diminuir o plástico em um dos cartões postais mais cobiçados pela
rota turística internacional.
Conforme
a lei, a fiscalização fica a cargo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico,
Turismo e Meio Ambiente que poderá aplicar aos infratores multa no valor de 100
Unidades Fiscais de Referência do Município (Ufirm). A íntegra completa do
texto pode ser conferida no link: https://www.jijocadejericoacoara.ce.gov.br/arquivos/338/LEIS%20MUNICIPAIS_540_2018_0000001.pdf
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